Manutenção do ser existente
Antes de notar o que há instalado de forma embutida de sentido e daquilo em teoria descoberto, o sentido estrutural morfológico ainda permanece intacto, e a própria definição se retoma ao primitivo.
“(…) nas representações coletivas da mentalidade primitiva, os objetos, o seres, os fenômenos, podem ser si mesmos e “outro” de si, que eles emitem e recebem forças, qualidade, ações místicas.” (Ales Bello, 1993a, p.5)
“o pré-categorial, longe de ser o material informe ainda não elaborado no nível consciente (…), representa um vasto continente de expressividade humana delineável através de uma operação regressiva de tipo diacrônico, mas também de uma exploração sincrônica no interior de nossas vivências. (Ales Bello, 1993a, p.5).”
Já é claro nos incontáveis estudos da filosofia das coisas, se assim podemos dizer, que a unicidade abriu seu espaço para a então “co-existencia”, no plano material e da mente ideativa. Se no plano físico e determinado como racional a busca pelo logus (razão) se tornou ingênua, impregnada da necessidade mundana social e do homem (citado por Ales Bello), já dito por Foucault anteriormente também quando cita o “poder divisório”, fica possível de determinar então, junto do pensamento que essa construção de sentido parte desse viés histórico e coletivo (regressivo diacrônico), e também da constante atividade de processamento individual (sincrônico interior), que a movimentação se dá em uma estrutura possivelmente representada de forma gráfica através de um Diagrama de Venn, do qual desde a matemática básica nos mostra a possibilidade e existência de conjuntos, dos quais possuem suas partes separadas mas em algum espaço se interseccionam, sendo essa uma própria definição talvez mais abstrata do conjunto matemático em si, dois ou mais espaços determinados que possuem pontos de encontro, e a partir desses desenvolvem processos de estruturação para novos resultados.
O compreender primitivo se passa então também por morfológico, ou seja, aquele que estrutura antes da formação do sentido definido para o que quer que se trate. Se é um, também é o outro, que primordialmente foi ou passou a ser.
Carne, matéria e corpo são os elementos que constituem o que é tido enquanto materialidade. Essa própria análise filosófica do que é o real corpóreo o define pela base morfológica do ser físico, sua estrutura de presença, seja este corpo racional humanoide ou criado/objeto, ou o corpo “a-lógico” instintivo animal.
Observar as camadas de construção da realidade implica na manutenção do ser, o qual presente nesse espaço de constante simultaneidade é sujeito à mutações do físico e ideativo, e que não deixa de ser puramente alquímico e fundamental em suas estruturas, surgindo então a possibilidade de um raciocínio mais aprofundado sob o que lhe é apresentado como concretude.
Na base do sentido, tudo se desmembra ao que primeiramente foi para vir a ser. O eu encontra suas estruturas em canais mais profundos da ancestralidade do seu entendimento, o homem não deixou de ser macaco.
“A sorte dos mortais cresce num só momento; e um só momento basta para a lançar por terra, quando o cruel destino a venha sacudir. Efêmeros! Que somos? que não somos? O homem é o sonho de uma sombra. Mas quando os deuses lançam sobre ele a luz, claro esplendor o envolve e doce é então a vida.” — O Sonho de uma Sombra, do poeta grego Píndaro